Introdução
Um objeto abandonado. Silêncio em quarteirão cheio. Em segundos, a física decide o que acontece com quem está por perto. O traje antibombas existe para dar ao operador EOD a única moeda que importa nessas horas: tempo de raciocínio.
Explosões: o problema físico
Explosão não é “efeito especial”; é energia em trânsito.
Sobrepressão: um pico de pressão que viaja e pode refletir em paredes, somando com ela mesma.
Impulso: desloca, derruba, “chicoteia” o corpo.
Fragmentos: tudo que vira seta procurando frestas.
Em vias estreitas e ambientes confinados, as reflexões ampliam o estrago; por isso, geometria e posicionamento salvam tanto quanto material. O traje não cancela a explosão, mitiga seus efeitos.
Anatomia da armadura EOD
Pense em camadas que transformam um “soco” num “empurrão” distribuído:
Casca externa: tecidos resistentes a abrasão e calor (ex.: Nomex®).
Aramidas (ex.: Kevlar®): retêm fragmentos.
Placas compostas: espalham energia de impacto.
Capacete/visor laminado com ventilação e áudio para comunicação; colar cervical reduz “chicote”.
Peitoral e apron abdômen/inguinal: muralha frontal (onde o operador “oferece” o corpo, se algo falha).
Jaqueta/calça com sobreposições para eliminar “costuras fracas”.
Luvas e botas: compromisso entre proteção e destreza.
Trade-off inevitável: Proteção × Mobilidade × Térmico. Por isso, aparecem resfriamento ativo (fluxo de ar, PCM) e quick-release para desvestir rápido.
Nota prática de cena: EOD ajoelha de frente para o artefato porque os trajes modernos priorizam a frente. Movimentos curtos, cotovelos colados, mãos próximas ao tronco.
Quem faz EOD no Brasil?
O Brasil não tem um “COE nacional EOD” único. A função se distribui:
Âmbito federal: GBE – Grupo Especializado em Bombas e Explosivos da Polícia Federal (varreduras técnicas em eventos e neutralização/pos-explosão). Wikipédia
Âmbito estadual:
GATE/PMESP (Esquadrão Antibombas dentro da estrutura do 4º BPChq). Wikipédia
CORE/PCERJ (histórico com célula antibomba desde o fim dos anos 1960). Wikipédia+1
BOPE/PMMG – Esquadrão Antibombas (criado em 1992; atualização de trajes em 2025). Wikipédia+1
BOPE/PMBA – Companhia Antibombas (Salvador e RMS; instruções e atuações recorrentes). Facebook+1
PMs de outros estados mantêm células EOD ligadas a BOPE/Choque/GATE/Grupos táticos — com varreduras preventivas, neutralização e relatórios técnicos de pós-explosão (cadeia de custódia).
Pós-explosão e perícia: o relatório técnico reconstrói o artefato e ajuda a investigação; a base legal para exame de instrumentos do crime aparece no art. 175 do CPP. Planalto
Procedimentos, ferramentas e limites
Regra de ouro: evitar aproximação humana quando possível.
Sequência típica
Robô para reconhecimento e câmera;
Raio-X portátil para “ver por dentro”;
Disruptor (tiro d’água de alta velocidade, às vezes abrasivo) para cortar circuito;
Meios de tração (anzol, cabos, roldanas) para abrir/virar à distância;
RSP – Render Safe Procedure: quando a presença humana é inevitável, aplicar técnicas para neutralizar com segurança. Wikipedia+2Marines+2
Limites físicos
Ambientes confinados multiplicam sobrepressão por reflexão.
O traje reduz letalidade e lesões penetrantes, mas não “apaga” a física — principalmente para pulmões e orelhas.
Custos e aquisição
Equipamentos EOD são caros, em geral importados. Um caso público e bem documentado: o Esquadrão Antibombas do BOPE/PMPR recebeu dois trajes avaliados em R$ 1,2 milhão (26/03/2021), com entrega oficial pela SESP-PR e PMPR. Secretaria da Segurança Pública+1
Referências e base legal
Render Safe Procedure (RSP): doutrina EOD que descreve métodos para interromper funções ou separar componentes e evitar detonação. Wikipedia+2Marines+2
Art. 175 do Código de Processo Penal: instrumentos usados na infração devem ser submetidos a exame pericial (base para pós-explosão). Planalto
Estruturas brasileiras: GBE/PF e exemplos estaduais (GATE/PMESP, CORE/PCERJ, BOPE/PMMG, BOPE/PMBA). Facebook+5Wikipédia+5Wikipédia+5
FAQ rápido
O traje antibombas resiste a qualquer explosão?
Não. Ele mitiga fragmentos e parte da sobrepressão, prioriza a frente do operador e ganha tempo de decisão. Em espaço confinado, a física segue cruel.
Por que não usar sempre robôs?
Porque cenários reais têm vãos estreitos, degraus, piso molhado, cabos e sombra. Robôs reduzem risco, mas há momentos em que o olho e a mão humanos são insubstituíveis para um RSP bem-sucedido. Wikipedia
Quanto custa um traje EOD?
Varia por modelo/nível de proteção. Caso público: R$ 1,2 milhão por dois trajes no Paraná (2021). Secretaria da Segurança Pública+1
Quem assina a perícia após uma neutralização?
A perícia oficial, com relatório técnico que atende à exigência do CPP, art. 175 (exame dos instrumentos do crime). Planalto