Você está dirigindo ou caminhando pela rua quando, de repente, um estrondo interrompe a rotina. Dois veículos se chocam violentamente. Poeira, estilhaços, gritos. No meio do caos, vítimas feridas, motoristas desorientados e pessoas correndo para ajudar. É uma cena que ninguém quer presenciar — mas que, infelizmente, pode acontecer com qualquer um de nós. E nesses primeiros minutos, cada decisão importa.
Muita gente age por impulso, com boa intenção, mas acaba colocando a própria vida ou a das vítimas em risco. Saber o que fazer — e o que não fazer — é essencial. Como bombeiro militar, já participei de dezenas de resgates em acidentes de trânsito e posso afirmar: atitudes simples, quando bem orientadas, fazem toda a diferença até a chegada do socorro.
Neste artigo, compartilho orientações práticas e diretas para quem deseja estar preparado. São dicas que podem salvar vidas — talvez até a sua ou a de alguém que você ama.
1. Avalie sua própria segurança primeiro

Diante de um acidente, a primeira reação da maioria das pessoas é correr para ajudar. Mas, por mais nobre que essa atitude pareça, o impulso pode ser perigoso. A verdade é que o primeiro passo não é prestar socorro direto — é garantir que você mesmo não se torne mais uma vítima.
Antes de se aproximar, olhe ao redor. O local é seguro? O trânsito foi interrompido? Há risco de novos impactos, incêndio, vazamento de combustível ou fios energizados? Avalie tudo com calma. Muitos acidentes secundários acontecem porque alguém tentou ajudar sem perceber os perigos ao redor.
Se estiver de carro, ligue o pisca-alerta imediatamente, estacione em local seguro e coloque o triângulo de sinalização a uma distância adequada — no mínimo 30 metros do local do acidente. Isso ajuda a alertar outros motoristas e evita novos choques.
Se for à noite, use lanternas ou o farol do carro para iluminar a área, sempre com atenção redobrada. Em avenidas movimentadas, jamais atravesse correndo para “chegar primeiro” até a vítima.
Lembre-se: quem ajuda com segurança consegue ajudar de verdade. Proteger-se é o primeiro passo para proteger o outro.
2. Acione o socorro imediatamente

Após garantir sua própria segurança e sinalizar o local, o passo mais importante é acionar os serviços de emergência o quanto antes. Cada minuto conta — principalmente quando há vítimas inconscientes, presas nas ferragens ou com sangramentos visíveis.
Você pode acionar os principais serviços pelos seguintes números:
193 – Corpo de Bombeiros: indicado para acidentes com risco de incêndio, vítimas presas ou necessidade de resgate especializado.
192 – SAMU: responsável pelo atendimento pré-hospitalar com suporte médico.
190 – Polícia Militar: para controle de tráfego, isolamento da área e registro da ocorrência.
Ao ligar, mantenha a calma e forneça informações claras e objetivas:
Localização exata (avenida, número, ponto de referência)
Quantidade de veículos e vítimas envolvidas
Se há pessoas inconscientes ou presas
Riscos aparentes (vazamento, fogo, postes, fiação)
Evite desligar até que o atendente permita. Sua ligação pode ser determinante para o tipo de viatura enviada e a agilidade da resposta.
Mesmo que outras pessoas estejam no local, nunca presuma que alguém já ligou. Confirme ou faça a chamada por conta própria — isso pode salvar vidas antes mesmo dos primeiros socorros começarem.
3. Sinalize o local corretamente

Enquanto o socorro não chega, sua responsabilidade é garantir que o local do acidente não se torne ainda mais perigoso. Sinalizar corretamente evita que outros veículos se envolvam na ocorrência e protege as vítimas, os socorristas e você mesmo.
Se estiver dirigindo, estacione seu veículo a uma distância segura e ligue o pisca-alerta. Em seguida, posicione o triângulo de sinalização a pelo menos 30 metros do acidente, aumentando a distância em rodovias ou curvas fechadas. Se possível, utilize galhos, cones ou lanternas para reforçar a visibilidade, especialmente à noite.
Nunca permita que curiosos se aproximem das vítimas ou entrem na área de risco. Aglomerações atrapalham o trabalho dos bombeiros e aumentam a chance de novos acidentes.
Sinalizar não é apenas uma medida preventiva — é um ato de responsabilidade e cidadania. Você cria um perímetro de segurança e ganha tempo precioso até a chegada das equipes especializadas.
4. Não retire vítimas presas — a não ser que haja risco iminente

Diante de um acidente, é comum a vontade de ajudar levando a atitudes impulsivas, como tentar retirar a vítima do veículo. Mas esse gesto, apesar de bem-intencionado, pode agravar lesões graves, principalmente na coluna cervical.
A orientação é clara: não mova a vítima, a menos que exista risco iminente, como:
Incêndio no veículo
Vazamento de combustível com cheiro forte
Possibilidade de afogamento ou desabamento
Fora essas situações, o ideal é manter a pessoa no local e evitar qualquer movimentação brusca. Converse com ela, acalme, diga que o socorro está a caminho e, se possível, mantenha a cabeça alinhada com o corpo.
Os bombeiros e o SAMU possuem técnicas e equipamentos específicos para fazer o resgate com segurança. A pressa pode custar caro quando o corpo ainda está em choque. Nessas situações, menos é mais — e a melhor ajuda é garantir que nada piore.
5. Acalme e proteja a vítima

Após garantir a segurança do local e acionar o socorro, é hora de se concentrar na vítima — sem tocar ou movimentar, mas oferecendo apoio emocional e proteção.
Se a pessoa estiver consciente, aproxime-se com calma, identifique-se e fale com tranquilidade:
“Meu nome é [seu nome], eu vi o que aconteceu. O resgate já foi chamado e está a caminho. Fique tranquilo(a), você não está sozinho.”
Essa atitude simples pode evitar o agravamento do estado emocional da vítima. O pânico pode acelerar a frequência cardíaca, prejudicar a respiração e até piorar hemorragias internas. Por isso, manter a calma e transmitir segurança é essencial.
Evite oferecer água, comida ou medicamentos, mesmo que ela peça. Em muitos casos, o atendimento médico exige jejum ou intervenção rápida, e qualquer substância ingerida pode dificultar os procedimentos.
Se houver risco de frio ou chuva, tente proteger a vítima com um pano, casaco ou cobertor, sem movê-la. Também é importante afastar curiosos, que podem atrapalhar ou causar constrangimento.
Nesses momentos, ser presença é mais importante do que ação física. Mostrar que alguém está por perto, atento e solidário, já é um grande passo para manter a vítima estável até a chegada dos profissionais.
6. Desligue a bateria (se for seguro)

Em alguns acidentes, pode haver risco de incêndio por curto-circuito elétrico, especialmente quando há vazamento de combustível ou cheiro forte de gasolina no ar. Nesses casos, uma medida preventiva importante é desligar a bateria do veículo — mas somente se for seguro fazê-lo.
A bateria geralmente fica no compartimento do motor, protegida por uma tampa plástica. O ideal é desconectar primeiro o terminal negativo (preto), utilizando uma chave adequada, se disponível. Isso interrompe o fluxo elétrico e reduz o risco de faíscas ou ignição espontânea.
No entanto, nunca tente abrir o capô se houver fumaça, chamas, estalos ou risco de explosão. A segurança vem sempre em primeiro lugar.
Se você não tem conhecimento técnico ou ferramentas apropriadas, o melhor é manter distância e informar os bombeiros assim que chegarem. Em situações críticas, um simples detalhe pode fazer a diferença entre um resgate seguro e uma tragédia.
7. Tenha um kit de emergência no carro

Estar preparado para situações de risco começa muito antes de um acidente acontecer. Ter um kit de emergência dentro do carro pode fazer toda a diferença em momentos críticos — tanto para se proteger quanto para ajudar outras pessoas com segurança.
Itens essenciais incluem:
Triângulo de sinalização adicional ou bastão luminoso
Lanterna com pilhas ou recarregável
Luvas descartáveis (para evitar contato direto com sangue ou fluidos)
Cobertor térmico ou manta leve
Tesoura e fita adesiva resistente
Pequeno estojo de primeiros socorros com gaze, curativo e antisséptico
Se possível, inclua também uma lista com telefones de emergência atualizados, como o número de parentes próximos, seguro veicular e serviços de emergência locais.
Esse kit não ocupa muito espaço, mas pode ser determinante em momentos de urgência. Lembre-se: quem dirige preparado, dirige com mais consciência e responsabilidade.
Conclusão
Presenciar um acidente é algo que ninguém deseja, mas estar preparado pode transformar você em alguém que faz a diferença nos primeiros minutos críticos.
Saber agir com calma, proteger o local, acionar o socorro e respeitar os limites de atuação é tão importante quanto qualquer equipamento.
Se essas dicas forem úteis para você, compartilhe este artigo com seus amigos e familiares. Informação salva vidas — e quanto mais gente souber o que fazer, mais vidas poderão ser salvas.
🚨 Você pode ser o primeiro socorro até a chegada dos profissionais.