Introdução — o inimigo silencioso
Um trabalhador entra “rapidinho” num tanque; minutos depois, apaga. Um colega desce para ajudar e também cai. Não há explosão cinematográfica — só ar ruim, pressa e protocolo ignorado. Em espaços confinados, o perigo é invisível e acumula-se até que alguém respire fundo demais.
Este guia mostra, de forma direta, o que a NR-33 exige, por que acidentes se repetem, como atuam os bombeiros e como prevenir — antes que uma rotina banal vire tragédia.
O que é um espaço confinado (e por que isso importa)






Pela NR-33, é espaço confinado todo local que (a) não foi projetado para ocupação humana contínua, (b) tem meios limitados de entrada e saída, e (c) tem atmosfera perigosa real ou potencial (deficiência/enriquecimento de oxigênio, contaminantes ou atmosfera explosiva). Serviços e Informações do Brasil
Exemplos comuns (e traiçoeiros):
Galerias de esgoto: H₂S, metano, amônia, risco biológico e afogamento.
Silos agrícolas: engolfamento em grãos e gases da fermentação.
Poços e cisternas: acesso vertical, O₂ rarefeito, paredes escorregadias.
Caixas d’água: ventilação precária, produtos químicos residuais.
Túneis técnicos: colapso, eletricidade, atmosferas perigosas.
Tanques de combustível: vapores inflamáveis e O₂ baixo.
Sinal vermelho: materiais do próprio MTE indicam que <19,5% O₂ ou >23,5% O₂ caracterizam atmosfera perigosa. Ventilação e monitoramento são inegociáveis.
Riscos invisíveis que mais matam

Deficiência de oxigênio (queda abaixo de 19,5%): desorientação, desmaio e morte sem aviso.
Gases tóxicos (ex.: H₂S, CO): doses pequenas, efeitos rápidos.
Atmosfera explosiva: faísca + mistura inflamável = catástrofe.
Engolfamento (grãos, lodos): soterramento em segundos.
Calor e esforço: exaustão em locais confinados.
O monitoramento contínuo (O₂, inflamáveis, tóxicos) e a ventilação antes e durante a entrada estão descritos em guias técnicos oficiais da NR-33.
Como é o resgate em espaços confinados (bastidores da operação)

Sequência tática típica (resumo):
Isolamento e comando da cena.
Ventilação forçada e monitoramento atmosférico.
PET emitida e equipe capacitada (EPR quando aplicável), com linha de vida.
Tripé e sistema de polias para acesso e içamento.
Comunicação contínua com o interior; retirada imediata se qualquer alarme dispara.
A NR-33 detalha PET (Permissão de Entrada e Trabalho), papéis e responsabilidades: responsável técnico, supervisor de entrada, vigia, trabalhador autorizado e equipe de salvamento — incluindo carga horária mínima de capacitação e proibições (sem PET, sem avaliação atmosférica, sem vigia, sem capacitação = proibido entrar).
Não entre para “puxar o colega”. Alertas clássicos da NIOSH apontam que a maioria das mortes históricas ocorreu justamente com socorristas improvisados; revisão acadêmica recente contesta o percentual de 60%, mas confirma o padrão de múltiplas vítimas. Acione 193 e mantenha o controle da cena.
O que a NR-33 exige (em linguagem direta)
Caracterização e cadastro dos espaços confinados da organização.
Gerenciamento de riscos, controles e sinalização/bloqueio de acesso.
PET antes de toda entrada, com avaliação e monitoramento atmosférico.
Capacitação inicial e periódica (supervisor, vigia, trabalhadores e equipe de resgate).
Plano de resgate documentado e simulado anual. Serviços e Informações do Brasil
Faixa de O₂ de referência (materiais oficiais): 19,5% a 23,5% como zona segura operacional — abaixo/acima disso, atmosfera perigosa. Serviços e Informações do Brasil
Checklist rápido de prevenção
Antes da entrada
PET emitida e assinada
Avaliação de O₂ / inflamáveis / tóxicos
Ventilação iniciada e mantida
Linha de vida instalada; pontos de ancoragem checados
Vigia posicionado e comunicação testada
Durante a atividade
Monitoramento atmosférico contínuo
EPR e EPIs conforme riscos
Sem trabalhos a quente sem controle de ignição
Ordens claras; abandono imediato se qualquer alarme soar
Se algo der errado
Não entrar para resgatar sem equipe/EPIs
Acionar 193 e seguir o plano de resgate
Controlar acesso, manter ventilação e atualizar sinais/placas
Erros que se repetem (e como quebrar o ciclo)
“É rapidinho” → Sem PET.
“O cheiro está normal” → Sem medição (O₂ pode estar crítico sem odor).
“Eu sei o caminho” → Sem linha de vida.
“Eu salvo ele” → Segundo, terceiro, quarto acidentado. cdc.gov
FAQ (conteúdo prático)
Como identificar um espaço confinado?
Se não foi feito para ficar gente lá dentro, o acesso é difícil e pode haver atmosfera perigosa, trata-se de espaço confinado. Verifique a NR-33 e o cadastro da sua organização. Serviços e Informações do Brasil
Qual é o nível “seguro” de oxigênio?
Materiais oficiais do MTE indicam 19,5% a 23,5% como faixa operacional segura; abaixo/acima, atmosfera perigosa. Referências internacionais (OSHA/NIOSH) usam a mesma ordem de grandeza. Serviços e Informações do Brasilosha.gov
Quem pode entrar?
Somente trabalhador autorizado, com PET emitida, vigia presente, monitoramento em curso e EPIs/ERPs conforme risco. Serviços e Informações do Brasil
Vi alguém desacordado dentro de um bueiro/tanque. O que faço?
Isole, ventile se possível sem risco, não entre e ligue 193. O “resgate do impulso” é o que transforma um acidente em tragédia múltipla. cdc.gov
Créditos e fontes essenciais
NR-33 (texto consolidado e retificado, 2022) — definição, PET, papéis, proibições e capacitação. Serviços e Informações do Brasil
Relatório AIR do MTE (2021) — referência de faixa de oxigênio <19,5% / >23,5% como atmosfera perigosa. Serviços e Informações do Brasil
NIOSH (CDC) — Confined Spaces Alert — padrão de múltiplas vítimas e risco de socorristas improvisados. cdc.gov
Análise acadêmica (2018) — questiona o “60%” clássico, mas confirma riscos significativos em resgates. ScienceDirect
Casos recentes no Brasil — Araucária/PR (tanque), notas sobre silos e capacitação. GloboplayRevista ProteçãoCNA Brasil